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Que influência teve a Internet nas eleições espanholas?

(…) no me parece que internet haya conseguido movilizar a los ciudadanos. No obstante, la influencia de la red y del resto de medios de comunicación, se proyecta en la clara bipolarización del resultado (…)

 

José Luís Orihuela, eCuaderno, aqui, num post absolutamente essencial:

Han ganado los partidos en su empeño de polarizar el debate, de sustraerlo de la confrontación con periodistas independientes y de hacer creer a alguna gente que el proceso discurría por los cauces de la web social. Los políticos no han escuchado la conversación de la red, o no han querido o sabido formar parte de ella. Se pidió un debate ciudadano en internet y se obtuvo un simulacro de participación (…)

(negritos meus)

Por detrás de um mau político, está sempre…

Este post não tem interesse para a maioria da blogosfera portuguesa, a não ser que eu acrescentasse que o líder do PSD, Luís Filipe Menezes, bem se esforça por imitar o líder do principal partido da oposição em Espanha, o PP. Mas a verdade é que fazer pior que Mariano Rajoy é difícil, muito difícil. Por isso deixo-vos com um dos primeiros cartazes da pré-campanha para as legislativas espanholas, que é da autoria do Partido Socialista da Catalunha. Diz tudo sem uma palavra, logo é um bom cartaz.

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(da esquerda para a direita: Mariano Rajoy, Angel Acebes,
Eduardo Zaplana, Esperanza Aguirre e José Maria Aznar)

Três canais de vídeo acompanham eleições espanholas na Internet

A política espanhola segue o exemplo da americana e lança-se em força na cobertura da próxima campanha eleitoral no YouTube e sites afins. A RTVE, empresa responsável pela rádio e televisão pública espanhola, aliou-se ao popular site de partilha de vídeos e em conjunto criaram um canal dedicado às eleições legislativas espanholas, marcadas para 9 de Março de 2008. O canal reserva um espaço para cada uma das forças partidárias concorrentes e lança o desafio aos eleitores para que interpelem por vídeo os candidatos e coloquem as suas perguntas através do YouTube. A RTVE afirma que depois fará uma selecção e que colocará as questões escolhidas aos candidatos que passarem pela sua emissão. 

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Uma responsável da RTVE explica desta forma a vantagem desta deslocação para a Internet:

Ao permitir que os cidadãos formulem perguntas aos candidatos, o centro da atenção nestas eleições residirá nas questões que mais interessam aos eleitores.

Em alternativa, os eleitores espanhóis contam ainda com um outro canal no YouTube dedicado ao mesmo assunto, este lançado pela estação privada de televisão Antena 3 (encarada como próxima do Partido Popular). Segundo foi anunciado hoje, funcionará mais ou menos nos mesmos moldes que o canal da televisão pública (criticada por ser controlada pelos socialistas no poder).

E fora da plataforma YouTube, foi aberto um canal de vídeos para acompanhar o sufrágio no site Tu.tv.

Venha daí esse provedor do cibernauta

Deve haver poucos portugueses com uma ligação à internet que se sintam totalmente satisfeitos com o serviço e o preço cobrado pelo respectivo Internet Service Provider (ISP) em Portugal. Há casos quase patológicos de insatisfação (qualquer cliente Netcabo, por exemplo, sabe do que estou a falar), mas as queixas não são um exclusivo nacional. Ao contrário do que muitos poderão pensar, a verdade é que “lá fora” é como “cá dentro”. Os espanhóis, por exemplo, sentem-se “chulados” pelos ISP e ainda há dias se queixaram publicamente das (más) condições de mercado no acesso à banda larga. Numa penada, nuestros hermanos – que são campeões mundiais nos downloads, segundo um estudo internacional realizado em 2007 – queixam-se de serem os europeus com a banda larga mais cara e mais lenta e, não admira pois, que exijam um novo modelo de regulação, que defenda os clientes e garanta preços justos para serviços de qualidade.

Problemas com os quais poderíamos nós muito bem, não fosse a sina portuguesa tão má quanto a dos vizinhos do lado, que dizem esperar dez minutos ao telefone, em média, para serem atendidos pelo apoio ao cliente dos ISP (dez? isso não é nada dirão uns tantos cibernautas portugueses). Infelizmente, até agora ainda não se encontrou um modelo de regulação eficaz para pôr termo aos desmandos dos prepotentes ISP, que não hesitam em prometer este mundo e o outro através da publicidade e, uma vez conquistado o cliente, largam este à mercê da triste realidade que é pontuada pela incompetência (quando não a má vontade). A Anacom nunca foi (e talvez nunca venha a ser) aquilo que muitos de nós gostaríamos e, concluindo, resta ao azarado cliente protestar aos ouvidos das inenarráveis linhas de apoio ao cliente (muitas delas fazendo-se pagar a peso de ouro em cada chamada recebida).

O que fazer para mudar este estado de coisas? A nível europeu, parece não haver grandes ideias. A Comissão Europeia pensa na criação do mercado único de conteúdos digitais – o que demonstra mais preocupação com as empresas de conteúdos e o copyright do que propriamente com um fair market de Internet. Fora isso, fala-se na criação de um provedor do cibernauta, uma figura já existente na Comunidade de Madrid, e que ontem foi proposta pelo Partido Socialista Espanhol, o PSOE, para toda a Espanha. É uma proposta simpática, avançada como proposta eleitoral num encontro que serviu também para os dirigentes do PSOE passarem a mão no pêlo dos jornalistas aqui do lado, numa altura em que o país está a dois meses de eleições legislativas. Fica por isso a dúvida se é uma ideia para levar a sério, ou se não passa de um sound byte eleitoralista do partido de Zapatero. Mas que já faz falta quem nos defenda da mala educación dos ISP, disso parece não haver dúvidas.

Outras histórias: 

Notícias publicadas ontem por mão própria nas secções de Tecnologia e de Cultura do ELPAÍS.com: originais do Goya, do Velázquez, ou do Cervantes estão desde ontem disponíveis gratuitamente em formato digital no site da nova Biblioteca Digital Hispánica – são mais de 10 mil documentos online, para consultar ou descarregar sem custos; e na Grécia foi descoberto um caderno de desenhos que se crê ter sido do pintor holandês Vincent Van Gogh.

Um YouTube dos livros

O portal conoceralautor.com é um sítio dedicado aos livros em língua castelhana onde cada autor é convidado a explicar em dois minutos uma das suas obras. A ideia é inspirada no meettheauthor.com, que faz o mesmo para autores ingleses e norte-americanos. Cada depoimento é gravado em vídeo e tem no máximo dois minutos. 

A versão espanhola do site é o tema de um dos meus textos publicados hoje no ELPAÍS.com, onde me encontro a estagiar. Depois da primeira semana passada no Internacional, mudei-me hoje de armas e bagagens para a Cultura. Outro dos textos com direito a destaque na ‘portada’ do jornal é relativo à perda de público nos cinemas espanhóis. Um tema que incendeia os ânimos por cá. Quanto ao YouTube literário, fica a dica, para quem quiser conhecer, consultar ou inspirar-se para lançar a versão portuguesa.

Textos de ontem, no Internacional: aqui e aqui.

Finalmente, las chicas

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Madrid, 13/01/2008

Enquanto aguardo pela melhor oportunidade para visitar o estádio dos colchoneros (que fica a dois passos da casa onde me instalei em Madrid), não hesitei em tirar o domingo para passear por museus. Primeiro, no Reina Sofia; foi uma visita frustrante – quando cheguei finalmente ao Guernica, lá exposto, encerraram o museu. Deu para vê-lo durante um minuto, o que me obriga a lá voltar noutra altura. Mas da próxima já sei que o museu encerra às 14h30.

Meti os pés a caminho do Museo del Prado, que tem uma excelente exposição temporária intitulada “As Fábulas de Velázquez”. Perdi-me. Depois, nas colecções permanentes pude ver (finalmente) as chicas, sim “Las Meninas”, do Velázquez (o gajo da foto aí em cima). Fabulosa pintura. Queria trazê-la comigo, mas pesava muito. Ainda pedi ao menos o tríptico “Jardim das Delícias”, do Bosch. Nem isso. Mierda,…. vou jantar então. Hasta ahora!

É só rir, é só rir

sshot-3.pngFoi uma sexta-feira muito divertida. Primeiro, a discussão em torno da nova letra do hino espanhol. Um tema sensível, e só vos digo: um verdadeiro mimo estes nuestros hermanos. Fartos de cantar “lalala” e “chunda chunda” quanto toca o hino, lançaram um concurso para arranjar uma letra para o dito cujo. O vencedor foi este, escrito por um desempregado manchego de 52 anos de idade, autor do poema com que se pretende substituir a letra antiga (franquista e, por isso, proibida). O diário ABC meteu a ‘cacha’ no site, deixando furiosa a organização do concurso, que queria apresentar o poema com pompa e circunstância ao país.

No El País saímos à rua (vejam o vídeo, screenshot em cima) e no site vão-se avolumando comentários (no momento em que escrevo, são 607!). É só rir, é só rir…

Depois, … mais risota por causa do remake americano do “Por qué no te callas” protagonizado por Condoleeza Rice e George Bush. “Shut your mouth” disse a primeira ao segundo, conta o correspondente do El País em Israel. Nada como uma boa gargalhada para acabar a semana, num dia em que me ocupei também de noticiário que por acaso até envolvia Portugal e (sem piada nenhuma) da crise no Quénia.

O apagão analógico e o brio digital

Enquanto Portugal começa agora a discutir um quinto canal de TV em sinal aberto (possível graças à abertura à televisão digital terrestre), em Espanha as televisões (sobretudo as locais) passaram ao lado do apagão analógico programado pelo governo. Um atraso que não impede os restantes meios digitais de tomarem a dianteira em relação ao futuro governo espanhol, propondo um debate na rede entre candidatos a primeiro-ministro nas legislativas espanholas marcadas para daqui a dois meses.  A proposta partiu dum jornal gratuito, o 20minutos, ao qual se juntaram entretanto outros órgãos como o portal Terra, ElPAIS.com, elmundo.es, LAVANGUARDIA.com, ABC, Público (espanhol) e o Yahoo. Se Zapatero e Rajoy aceitarem, os cibernautas poderão entrar no debate com perguntas via Twitter ou assistir a tudo online via TerraTV. Um cenário em tudo equivalente ao papel cada vez mais destacado que a Internet tem vindo a ter em momentos eleitorais, como o que se passa nos Estados Unidos.

Bem-vindos à Dromocracia

As crises costumam dar grandes notícias. Fornecem bons motivos de reportagem e estórias que, bem contadas, podem tornar-se importantes. A imagem romantizada do repórter de guerra será em parte reflexo dessa grandiosidade jornalística das crises. E quando uma notícia crítica cai nas redacções, põe-na logo a fervilhar. Não há melhor para pôr a tribo a trabalhar.

Hoje, em Espanha, viveu-se uma manhã assim. Tudo começou com uma notícia de agência que não tinha mais que um parágrafo. Supostamente, três militares espanhóis foram feridos na sequência de uma explosão de uma bomba. Mais um acontecimento crítico para o contingente espanhol estacionado no Líbano (e, aliás, para todo o reino). Os principais meios, jornais, rádios e tv’s caíram em cima do assunto. Enquanto o diabo esfrega um olho, surgiram os alertas vermelhos no topo dos sites, soaram as SMS noticiosas nos telemóveis informando dos três militares espanóis feridos. Primeiro veio a notícia curta, que se desenvolveu. Assim que houve tempo, reviraram-se os arquivos – e a notícia passou a ter um parágrafo mais. Logo a seguir,  juntaram-lhe informação com formato de animação flash (regurgitadas pelo arquivo, mas que caíram como sopa no mel). Depois veio o desmentido – os militares atingidos no Líbano eram irlandeses e não espanhóis. A crise era mais pequena do que se previa, e depois da notícia de agência, o que caiu nas redacções foi o embaraço.

A velocidade com que a informação circula na Internet obrigou a que a notícia se transformasse num definitivo work-in-progress: a cada minuto se mexe, se acrescenta, se melhora. Ou se nega. Porque no mundo dos jornais online o que importa é a velocidade. A velocidade ultrapassa a verdade. Mais dromocracia e menos democracia, como prega Paul Virilio, que é o tipo que tem escrito algumas das coisas mais interessantes sobre este tema. E é por causa desta diferença que a Internet há-de continuar a ser um bicho de sete cabeças para o jornalismo; se já era difícil no papel, na net torna-se ainda mais complicado e as precauções que se exigem são ainda maiores.

Antes que chegue el periodismo

A gripe obrigou-me a antecipar o fim do estágio no PÚBLICO, mas para concluir esta fase da minha vida académica e profissional, falta outro desafio. Daqui a uns minutos, (re)começa tudo de novo, agora na secção digital do EL PAÍS, em Madrid, onde já estou desde ontem.

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Vejamos se a prática do periodismo me deixará tempo e vontade para continuar a vir aqui.